Viagem de verão – 1933

Viagem do verão de 1933

Víctor chegou de Londres no Highland Princess no dia 28 de Junho, estava eu em vésperas de exame, cuja parte escrita comecei a 1 de julho. Passou-se muito bem, conservando eu a minha categoria intacta, com um 13; houve acima de mim um 16 e um 14 e alguns mais “ex-aequos”. As provas escritas começaram a 1 de julho e acabaram na segunda-feira 10. Não pude saber nada dos resultados antes do dia seguinte, 11, em que completei 17 primaveras! Jantámos os 5 para festejar o acontecimento no Hotel Atlântico no Monte Estoril e acabámos a noite no Luna Parque, então foco dos divertimentos na capital.

Por fim, arranjou-se tudo para sairmos na 5ª feira, 20, no Buick, para Londres. É a segunda viajata de automóvel desde a célebre “chuva”! O mesmo trajeto: Cacilhas, Setúbal, Vendas Novas (um furo!) e Montemor-o-Novo. Almoçámos no mesmo sítio do ano passado, mas desta vez à direita da estrada! Estava a comer uma boa perna de galináceo e olho para o chão distraidamente: deparo com uma bela dentadura. Dei o alarme. Todos se afastaram e olharam e nisto o pai põe a mão na boca e, ó sorte, era dele!!

Seguimos por Elvas e Badajoz; em Mérida paramos no Parador, muito confortável e depois de Trujillo fomos dormir ao Parador de Oropesa, já nosso conhecido! Fizemos 520 Km. Das 7.1/2 a.m. às 8.15 p.m.. O motor aqueceu imenso e via-se que já não trabalhava com o mesmo “à-vontade” do ano anterior!

6ª feira – 21

Às 9.15 partimos para Madrid. O motor começava a mostrar-se “doente”, havia um barulho esquisito que nos intrigava e nos metia algum receio duma paragem forçada. Se aquecia muito dava uns “tracs” enormes que diminuíam a marcha. Conseguimos chegar a Madrid e levámos logo o carro à oficina Buick. Um esplêndido mecânico descobriu e arranjou a bomba de óleo entupida. Almoçámos no “Molinero” ao princípio da Gran Via, que é muito conhecido do tio Henry, homem das boas pitanças. O concerto durou quatro horas e só partimos para Burgos às 7 p.m.. Jantámos em Aranda de Duero onde se notou logo a divertida alegria espanhola: muita gente a passear pelas ruas, etc.. Pelas 24 ½ estávamos à porta do Hotel Maria Isabel em Burgos.

Sábado – 22

Saímos pelas 9,30. Passámos em Vitória e em S. Sebastian às 2. Almoçámos aqui no Nicolasa, este bem conhecido do tio pitanceiro! Pelas 4h. parámos em St. Jean de Luz onde vimos os tios Scholtz. Tio Henry, sempre à procura de boas iguarias e sempre tão amável, levou-nos todos ao Café de Paris, em Biarritz onde jantámos opiparamente pelas 7 h., não faltando os “haricots verts e um peu de viande pour le petit chien”!!

Ainda tivemos nessa noite uma boa pilota até Bordéus onde chegámos à 1 e 30 a.m..

Domingo – 23

Almoçámos em Angoulême no Hotel des 3 Piliers. Comprámos uma caixa de Chocolat au Cognac, especialidade do Angoumois. Partimos para Poitiers. No caminho o motor começa a falhar e maçou-nos imenso todo o resto da viagem. Numa aldeia Artur vistoriou o “burrinho”, a bomba da gasolina, etc., mas nada. Com muito esforço, pois de volta e meia o carro parava, conseguimos chegar a Poitiers onde mesmo na Place d’Armes tivemos outra paragem forçada! Dormimos no Hotel du Palis.

2ª feira – 24

 O carro foi para a garagem Barrat onde se desmontou o sistema de gasolina inúmeras vezes sem resultado! Não se toscava com o gato! Eu aproveitei e dei um giro pela cidade que tem coisas interessantes. A Igreja Notre Dame la Grande é um dos monumentos mais conhecidos em arte romana. A façada é uma joia.

Com o carro na mesma partimos para Tours, Hotel de l’Univers.

3ª feira – 25

Saímos às 8 h. a.m. para Paris. Atravessámos Chateaudun, Chartres (fui dar uma 2ª e rápida vista d’olhos pela catedral), Mamtenon, Rambouillet, Versailles. Paris ao meio-dia. Ficámos no Hotel Westminter, rua de la Paix. Depois levou-se o carro que já chamávamos “lata” à garagem da General Motors onde não foram mais espertos que em Poitiers! Enigma!…

Jantámos no Pavillon Royal, no Bois, com Fortys. Fomos depois nós três com Helena ao Luna Parque.

4ª feira – 26

Muito calor. Almoçámos com tia Rosinha e Cecil no Café de la Paix. Fomos depois com Fortys ao Musée Du Luxembourg, na rue de Vaugirard, ciceronados pelo Ricardo Bensaúde. Vimos alguns exemplos interessantes de escultura e pintura francesas, moderníssimos; alguns quadros de “neoimpressionismo” e “pontilhismo” em que as cores são calculadas dando a impressão de mosaicos; um quadro muito conhecido de Meuniers, “la leçon de clavecin”. Fomos a seguir ao Musée Jaquenard-André, no Boulevard Haussman. É uma maravilha, tem “amostras” de tudo, quadros de Boucher, Fragonnard, Vigée-LeBrun, Van Dyck, Rembrandt, Rubens, Ruysdael, Reynolds, Hoppner, Gainsborough, Murillo, Velasquez, Grenge, etc., etc.; loiças, medalhas, tapetes, mobília, tudo do melhor.

Jantámos com Fortys.

5ª feira – 27

Partimos no Buick para Boulogne-sur-Mer. Metemos outra gasolina, “Esso” e o carro portou-se melhor. Em Boulogne embarcamos para Londres e Artur e carro voltaram para Paris; tiveram uma viagem horrível de “tracs”!  Chegámos ao “centro do Mundo” pelas 4 p.m. e fomos para o Bailey’s Hotel em Gloucester Road. Eu, Victor e Yvonne fomos ao Saville Theater ver Bobby Howes em “He wanted adventure”, ótimo.

6ª feira – 28

Almoçámos no Carlton com tio Fred que tem agora em Londres um bonito “Lagonda”

Lagonda – 2-litre 16-80 Weymann saloon c.1930. (Seria este?)

Sábado – 29

Fomos de comboio até Tilbury onde embarcámos no “Atlantis” para uma esplendidíssima viagem. Embarcou uma quantidade de malta. Claro que eu estava sempre examinando aquela massa humana (425 pessoas) com a curiosidade de ver gente moça, mas a percentagem de gente vetusta era assustadora! Na ponte bispei logo duas raparigas que me pareceram engraçadas; depois viemos a conhecê-las lindamente: as Hagedorns! Saímos pelas duas horas com tempo razoável, em direção a Lerth, o porto que serve Edimburgo, no First of Forth.

Domingo – 30

Há missa no lounge e começa depois a animação da vida de bordo, deck ténis, deck quoits, ping-pong, tomámos banho na piscina, etc.. Ao jantar de ontem tínhamos visto ao lado de nós os príncipes D. Jaime e D. Gonzalo de Bourbon y Battenberg (como vinha na lista de passageiros) com o seu aio D. Pelayo Corcho de la Horga. O primeiro é surdo-mudo[1], coitado, mas fazia-se mais ou menos compreender em espanhol; era esperto e uma simpatia, com a feições exatas do pai, Afonso XIII.

Pelas 6 horas entrámos em Leith. Ao longe via-se a formidável Forth Bridge. Embarcaram 90 e tantos passageiros; o barco estava “full up”. Dançou-se depois do jantar.

2ª feira – 31

Pelas 7 da manhã passámos pelo brumoso Pentland Firth, entre a Escócia e as Orkney Islands. Vimos ao longe Scapa Flow, célebre base naval britânica durante a guerra. Houve um Carnival Dinner e dança. Durante a noite atrasaram-se os relógos 40 minutos, pois estamos singrando a oeste. Começamos a conhecer mais gente, nas brincadeiras do ginásio, etc.. Umas italianas, mãe e filha, Mali Lupi de Soragna-Borghi, casada com o Fazuro, princípe Bonifácio de Soragna. De Milão.

3ª feira – 1 de Agosto

A caminho da Islândia, no alto mar, sossegado, mas apesar disso muita gente sente-se “awkward”; eu resisto, até ao fim da viagem. À noite, agora muito mais clara atrasam-se mais 40 minutos. Um grupo de gente nova está em vias de se formar: Hagedorns, Infantes, Corcho (que é um belo ponto), Soragnas Mary Rush e nós. Há boas partidas de ping-pong.

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4ª feira – 2 de Agosto

Ontem pelas 10 da noite tínhamos passado ao lado das 7 Westman Islands, ao sul da Islândia, que se viam perfeitamente; os dias agora são compridíssimos e as noites são claras bastante para se poder ler à meia-noite; mas o so, ainda desce abaixo do horizonte.

Às 7,30 o Atlantis ancorou no porto de Reykjavik. É a capital da Islândia. Tempo esquisito. Fomos a terra e andámos por toda a vila.

A Islândia, a que Van Loon chama “an interesting political laboratory in the Artic Ocean”, tem um interesse particular, não só pela sua estrutura genuinamente vulcânica, que faz dela um verdadeiro armazém de todos os fenómenos devidos à “fornalha” do interior da terra, como também pelo seu desenvolvimento político. É a república mais antiga do nosso planeta, com mais ou menos 10 séculos!

Os primeiros habitantes da ilha foram refugiados noruegueses que lá se estabeleceram no século IX. Apesar de uma oitava parte da superfície estar sempre coberta de glaciares e de haver apenas uma centésima parte realmente cultivável, lá permaneceram os noruegueses e tornaram-se agricultores independentes. E, como era hábito de todos os antigos povos germânicos, estabeleceram logo uma espécie de governo autónomo. Consistia num “Althing” que é uma assembleia, que se reunia uma vez por ano na planície de Thingvellir. Uma das excursões de bordo visitava o local, mas nós preferimos a outra.

Os islandeses, nos primeiros tempos desenvolveram grande energia, compuseram lindas sagas e bunharam como navegadores, descobrindo a Gronelândia e a América 500 anos antes de Colombo. Saga é uma antiga lenda escandinava, relatando acontecimentos míticos ou históricos.

No século XIII, a ilha foi conquistada pelos noruegueses e quando a Noruega foi dominada pela Dinamarca, ficou também sob domínio dinamarquês. Hoje em dia governa-se a si própria, mas reconhece como seu soberano o rei da Dinamarca.

Reykjavik tem hoje uns 25.000 habitantes, um quarto da população total que não excede os 100.000. de Manhã andámos pela vila com dois guias, raparigas bem engraçadas. É curioso que é enorme a percentagem de raparigas bonitas na cidade. É raro ver uma cara feia. Têm quase todas tipo nórdico, cabelos loiros, etc. frescas e limpíssimas!

Vimos a estátua de Leifr Ericsson, viking que descobriu a américa e lhe chamou Vinland. O monumento, bonito, foi oferecido pelo governo norte americano.

Fomos ao museu de esculturas do muito conhecido Einar Jonsson, que tem obras originalíssimas. Vimos ainda o museu da vila e o edifício do Parlamento; a catedral católica, moderna, foi construída para somente 300 adeptos!! A cidade em si não é bonita, mas curiosa e sobretudo limpa.

 À tarde fomos de carro visitar os geysers a 1 hora e tal da cidade. Chuviscava e a paisagem é monotoníssima! Não há árvore nenhuma, devido à camada de matéria vulcânica que cobre tudo; há umas ervas baixas, mas o país é acidentado. Mostra como a inteligência do homem pode vencer as circunstâncias desfavoráveis da natureza! A Islândia não é um paraíso! O inverno não é dos mais frios devido a um ramo benevolente do Gulf Stream, mas chove constantemente!

A Islândia é famosa pelos seus geysers, e nascentes de água em ebulição. O que fomos visitar, o Gryla Geyser, estava a dormir, pois tem períodos de atividade, estes interessantíssimos aparelhos. Nos terrenos em volta havia imensas nascentes que enchiam tudo de fumaça branca. É curioso que os habitantes canalizam a água a ferver natural para suas casas e têm assim banho quente e batatas cozidas de graça!

Jantámos a bordo e voltámos a terra ver um match de football entre o Reykjavik team e o team de bordo, ganho pelo primeiro por 3-1. Começou às 9,30 e acabou pelas 10,30.

A maior parte dos islandeses são pesacdores; pescam o bacalhau e o arenque, as duas primeiras indústrias da ilha. É na Islândia que há o único depósito de calcite transparente que se conhece. Chama-se, por isso, Espato da Islândia e tem a propriedade da dupla refracção.

Depois do match fomos dançar ao Hotel Borg, que estava cheio de malta da terra, donde se pescavam caras muito engraçadas!

Tive ótima impressão da terra!

5ª feira – 3 de Agosto

Partimos de madrugada para o norte da ilha. Seguimos a costa muito escarpada e pouco interessante. Pelas 8 p.m. passámos pelo North Cape of Island, imponente. O vapor apitou repetidas vezes para fazer levantar os milhares de pássaros que ali poisam. Todos estes incidentes vinham metodicamente anunciados no quadro de ardósia à entrada! Bela organização. Começaram os torneios de ping-pong e os outros jogos de bordo; entrava toda a gente; não se olhava para a vetustez!

6ª feira – 4 de Agosto

Pelas 7 a.m. ancorámos em Akureyri, abaixo um pouco do círculo polar, que tocámos no North Cape of Island. Da nossa cabine víamos a vila banhada de sol e com um ar de calma matutina maravilhoso! …….

Às dez desembarcámos com a nossa malta. Que bem organizadas as excursões a terra! Nunca houve “rushs” nem demoras e esperas.

Em terra alugámos todos uns poneys e demos um passeio catita. Os Iceland poneys andam bastante bem. À tarde fomos de automóvel ao Eyyafyord onde vimos a igreja mais antiga da Islândia (Grafarkirkja ? ) interessante, feita de turfa abundantíssima na ilha e com que estão feitas a maior parte das casotas do campo. Tem 200 anos.

Levantámos ferro pelas 5 horas, com rumo ao norte. A noite muito mais clara. Há dança todas as noites; às vezes dança-se a polka e outras coisas antigas, animadas pelo Mr. Meredith, jornalista do Daily Mail, que vem a bordo com o Lorde Rothermere e filho, o Hon. Esmond Harmsworth [1]. Este rapaz era casado com uma rapariga que é agora mulher do filho mais velho do Aga Khan.

Adiantou-se 40 minutos nos relógios, pois navegámos de novo a leste, ou melhor, a nordeste! À noite houve cabaret muitíssimo bom pelo “crew”.

Sábado – 5 de Agosto

Mar alto todo o dia. É das sensações mais agradáveis sentir “nada”, para todos os lados e sentidos!

Na mesa ao jantar o boletim de informações, impresso, que davam todas as noites, anunciava a passagem ao largo da ilha de Jan Mayen pelas 8 p.m…

Mar da Noruega - Geografia - InfoEscola

É uma ilha situada a 71º N de latitude e 7º de longitude oeste. Tem um vulcão no meio, o Berenberg, que estava coberto de neve e gelo e que se via já umas duas a três horas antes de chegarmos diante da ilha; quando passámos em frente, cobriu-se de nuvens e só o avistámos de novo à meia-noite iluminado pelo sol; parecia de oiro, feérico! Hoje pertence à Noruega que lá mantem, de vez em quando, 3 astrónomos a fazerem investigações meteorológicas. Foi descoberta em 1611, pelo navegador holandês Jan Mayen.

Estão em plena animação os torneios de bordo. Bati o meu primeiro adversário.

Estamos em pleno Oceano Ártico, sem noite, com o sol muito acima do horizonte, mas o céu coberto! Adiantaram-se mais 40 minutos.

Domingo – 6 de Agosto

Sempre mar alto. Vida muito animada. À noite, por ser domingo, não se dança; houve concerto no lounge. Deitamo-nos tardíssimo pois não apetece dormir… de dia!! Céu sempre toldado, mas percebe-se muito bem onde está o sol e vê-se o reflexo na água, sempre tranquila. Pessoas dizem ter visto o “spout” de baleias!

2ª feira – 7 de Agosto

De manhã tínhamos o branco Spitzbergen à vista! Como indica as suas montanhas são bastante aguçadas, logo recentes.

É um grupo de ilhas situadas entre 76º e 80º latitude N. muito montanhosas e cortadas por imensos fiordes e baías. Foram descobertas pelo holandês Wilhelm Barents em 1596. Ainda apanham um fraquinho ramo do benemérito Gulf Stream! Não deixam, por isso, de estar permanentemente cobertas de glaciares.

Pelas 3 horas chegámos a Magdalene Bay, o ponto de maior latitude que atingimos neste cruzeiro – 79º 32’. Estrámos na baía que é deslumbrante, com glaciares que chegam até ao mar, com reflexos azulados …. Alguns icebergs pequenos boiavam na água calmíssima. Quando entrámos ia a sair o barco norueguês “Stella Polaris” com 200 excursionistas. Parece que este ano foi excecionalmente quente; no ano anterior não se tinha podido entrar, estava bloqueada pelo gelo.

De Magdalene Bay seguimos para Cross Bay, linda, e daí para King’s Bay, onde chegámos pelas 8.30. As montanhas à roda estavam amarelas com o sol! Desembarcámos para visitar o hangar do dirigível “Itália” que em 1928 ficou destruído depois de ter voado sobre o Polo Norte, com o general Nobile. Vimos também o monumento em memória do grande explorador norueguês Amundsen e outros que morreram quando tentavam salvar os tripulantes do “Itália”.

Os passageiros do “Stella Polaris” estavam também em terra e encontrámos um casal do Porto, Alexandrino, pívio!

Houve aqui uma mina de carvão que explodiu há uns anos e ficou cheia de água. Há bastantes casas de madeira, desertas.

King’s Bay tem sido o ponto de partida de muitas expedições antárticas, bem e mal sucedidas.

Levantámos ferro às 11 horas; passámos por Sassen Bay.

3ª feira – 8 de Agosto

Pelas 10,30 chegámos a Advent Bay – 78º N – onde há uma aldeia operária – Long Year City, que desde 1905se dedica à exploração de um filão de carvão terciário de 4 pés de espessura, a 500 pés acima do nível do mar. Há ao todo uns 500 habitantes, dos quais 250 são mineiros; passam aqui o inverno, e estão separados do mundo civilizado durante uns 8 meses no ano. Uma mina teve uma explosão há uns 13 anos, e o carvão tem estado a arder desde então, ainda vimos o fumo!!

Encontrámos de novo o “Stella Polaris”!

Pelas 4 horas pusemo-nos a caminho do Cabo Norte, passando por Green Harbour, onde há uma mina de carvão russa! Pelo binóculo avistei em cima do edifício principal, a detestável bandeira encarnada!

4ª feira – 9 de Agosto

Passámos pela 1 hora ao largo de Bear Island, também descoberta por Barents em 1596. À noite houve um Dancing Competition, em Fox Trot. Víctor dançou com Mona Walton. Os Walton, gente muito simpática, pai e mãe e 2 filhas de Port Elisabeth. Dançaram muito bem e os dançarinos concederam-lhes o prémio, mas dali a cinco minutos veio o Mr. Meredith e anunciou o engano, tendo afinal ganho o par B. Utting e irmã! Favoritismo!

Nos campeonatos perdi em tudo! Víctor vai à final em ping-pong.

5ª feira – 10 de Agosto

Chegámos ao Cabo Norte de manhã cedo. É um promontório situado numa ilha, Mageroe, a 71ª N. Tem uns 300 metros de altura, que galgámos por uma encosta muito íngreme. É selvático. Lá em cima escrevemos uns postais pela piada de recebermos os selos. Havia alguns lapões, vestidos rigorosamente (possivelmente arranjado pelo Cook) que vendiam facas, etc, de corno de veado, o “rendeer”, veado especial da Lapónia e regiões árticas, que tem hastes em ambos os sexos. Era preciso dar-lhes alguns “Krone” para os fotografar!

Pelo meio-dia partimos e andámos até às 5 p.m. por fiordes, com terra de ambos os lados, até Hammerfest. Hammerfest é a cidade de maior latitude da Europa – 70º 40’.

 

Fica uns dois meses do ano com sol acima do horizonte. Nós já não tivemos essa sorte! Exporta “train oil” e cod liver oil, e muito peixe.

Deambulámos pela vila e campos próximos com a “nossa malta”.

Pela meia-noite, agora deve dizer-se 24 horas pois era dia ainda (!) partimos para Lyngen. Viajamos agora entre os célebres fiordes noruegueses. Dum e doutro lado, ora montes salpicados de neve ora campos de um verde vivíssimo.

6ª feira – 11 de Agosto

Chovia. Desembarcámos em Lyngen. Um dos mais belos fiordes noruegueses. Fomos ver um acampamento de lapónios, decerto arranjado pelo Cook!…

À tarde Víctor jogou a final de ping-pong; deante dum público numeroso e entusiástico dominou o adversário, bom jogador, John Green; foram filmados!

Pelas 7 horas chegámos a Tromso, cidade de 8000 habitantes, a maior ao norte do Círculo Ártico. Houve depois do jantar um match de football entre o “Atlantic F.C.” e o “Scarf F.C.”, local; o “kick off” foi pelas 9,30. Muito entusiasmo, divertido. Depois dançou-se no Alfheim, e houve discursos e palestras. Voltámos para bordo pela 1 ½.

Sábado – 12 de Agosto

Navegámos todo o dia. Houve um “fancy dress ball”, animado, em que fiz de pançudo cozinheiro, arranjado pelo Riggs, o tipo fixe do ginásio! Estou gozando imenso disto, é a primeira vez que me vejo num meio inglês e sinto-me muito à vontade, a atmosfera é muito simpática. Noite mais escura.

Domingo – 13 de Agosto

Pelas 2 horas chegámos a Trondhgem, cidade já grande com 45.000 almas. Ruas larguíssimas, por causa de incêndios pois a maior parte das casas são de madeira, barata na Noruega! Vimos a grande e interessantíssima catedral, e demos um passeio de carro elétrico dum términus ao outro, um ótimo meio de ver as vilas. Tomámos chá no Muller Restaurant, moderno e bom. Pelas 8 horas estávamos a andar.

2ª feira – 14 de Agosto

Entrámos de manhã no estreito e tortuoso Geiranger Fiord com falésias altíssimas dos dois lados, verdes; um lindíssimo canto da terra!

Passámos as célebres “7 sisters waterfalls” e pelas 11 horas ancorámos no extremo do fiorde. Merok, onde forma uma pequena baía. Disseram-se que aí tem 1000 metros de profundidade.

Pouco depois chegou o “Stella Polaris” cujos passageiros tinham atravessado de automóvel dum outro fiorde qualquer até Merok onde o barco os vinha recolher.

Demos com a Mary Rush um passeio numas carripanas a cavalo e vimos um dos “sigths” mais formidáveis que tenho visto.

Pelas 5,30 seguimos para Bergen, o nosso último porto e a 2ª cidade da Noruega.

3ª feira – 15 de Agosto

Pelas 8,30 amarrámos ao cais desta magnífica cidade. Belíssimos edifícios modernos, como a estação dos caminhos de ferro, a dos Telégrafos, a Ópera, o Palácio da Justiça.

Fomos primeiro a pé até ao mercado do peixe, interessantíssimo. Enormes tanques higiénicos cheios de peixes vivinhos da costa, de todas as espécies, e ao lado messa de pedra onde os “peixeiros” assassinam com 2 golpes no pescoço o peixe escolhido pelo comprador. Ainda em convulsões, abre-lhe a barriga longitudinalmente e destripa-o com uma destreza fantática!

Fomos de automóvel visitar a velha igreja de Fantoft, construída pelos Vikings, toda de madeira; século XII. Por fora lembra um pagode chinês, e é preta.

Subimos depois no funicular de Floien e almoçámos no restaurante, muito bom, lá no topo. A vista é qualquer coisa de espampanante, too great for words.

Os arredores da cidade são muito arborizados e salpicados de vilas e de chalets com lindos jardins. Visitámos o Museu Hanseático, instalado numa casa da época. Todos os membros desta célebre liga, que tinha correspondentes em todos os portos importantes, deviam ser solteiros para não poderem dedicar-se a outra coisa fora dos negócios da liga.

À saída houve 2 retardatários que tiveram uma arriscada subida para bordo por uma escada de corda. O guarda-chuva caiu à água!

À noite houve distribuição de prémios pelo Comandante A. Purvis.

Víctor teve o 1º prémio de ping-pong, o 2º de dança (com Mona Walton) e o 1º do “Threading the needle race”, na gymkhana, com a Amália.

4ª feira – 16 de Agosto

Já no caminho de regresso! Comecei a pedir autógrafos, moradas, etc. Houve um farewell dinner e dança. Foi uma estupenda viagem, instrutiva e muito agradável. Hoje em dia é a melhor maneira de passar umas férias.

5ª feira – 17 de Agosto

Amarrámos a Tilbury pelas 9 horas. É o aniversário do Víctor, o vigésimo! Fomos no comboio no mesmo compartimento dos príncipes. Fomos para o Bailey’s Hotel, Gloucester Road. Jantámos com o Lionel, no belo restaurante, o “Trocadero”.

 

Acabámos este cruzeiro magnífico, divertido, instrutivo e repousante, sendo esta uma maneira de viajar das mais cómodas e que repetiremos com certeza nos anos seguintes.

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 6ª feira – 18 de Agosto

O pai queixa-se muito do braço e acabado o “cruise” pensámos em poisar num sítio onde se trate aquele género de mazela.

Fomos de manhã ao Ministry of Health, em Whitehall para visitar a Miss Joe Puxley, nossa amiga de Bourboule[1], muito simpática. Almoçou connosco no Simpson’s e à tarde o Victor teve o seu “party” no Dorchester com Hagsdorms e Soragnas de quem ficámos muito amigos. A Mary e Daya iam para Stratford on Avon no dia seguinte, de maneira que combinámos ir lá ter com elas! A belíssima camaradagem e liberdade inglesas que eu ia experimentando pela 1ª vez!

À noite Victor e eu fomos ver “The late Christopher Bean” no St. James Theatre, explêndido. No meio dum intervalo senti uma bolinha de papel cair-me no colo, não liguei. Passados uns minutos olho para cima, eram os Waltons!!

Decidimos nesse dia ir para Harrogate, que tratava simultaneamente o Pai e a Mãe e porque está numa região linda.

Sábado – 19 de Agosto

Às 4,10 parti com Victor de Paddington para Stratford, no Warwickshire. É a cidade natal de Shakespeare.

Lá estavam na estação as duas simpáticas Hagedorn. Nunca esquecerei estas duas raparigas de caracter e educação completíssimas.

Fomos para o Harden Hotel em frente do famoso teatro onde todos os anos se representa Shakespeare durante umas semanas. A arquitetura moderna do edifício não condiz nada com a pitoresquíssima antiguidade da vila. Uma das casas antigas mais bonitas de lá é o Shakespeare Hotel, caríssimo.

Depois de um jantar “cosy” fomos para o teatro ver “Coriolanus” uma das peças menos conhecidas do poeta mas interessantíssima. Anew Mcmaster[2] representou o herói lindamente, Caius Marcius Coriolanus.

Cavaqueámos até tarde e fomo-nos deitar. No nosso quarto de banho havia um “motto” engraçado:

The lease of this well-watered spot is short

Extension can’t be got

Haste then! Because in ten minutes more

The next will thunder at the door!! 

 

Domingo – 20 de Agosto

Arranjámos 4 bicicletas e demos um belo passeio pela vila e arredores. Vimos por fora a casa pitoresca de John Harvard, fundador da célebre Harvard University, U.S.A… Em Wilmcots vimos a casa de Mary Arden, mãe de Shakespeare. Depois do almoço fomos até Shottery e vimos lá a “Anne Hathaway’s Cottage” muito bem conservada e grande atração turística. Era a mulher de Shakespeare.

Partimos depois num ótimo “Bus” para Kenilworth por Leamington Spa, um lugar de águas, pouco conhecido, mas enorme. Um “Spa” em Inglaterra é sempre uma estância balnear.

Visitámos o castelo,

célebre por ter pertencido ao belo Earl of Leicester, um favorito de Elisabeth, que aspirou ao trono! Como ele recebeu a rainha no castelo e as festas que deu vem admiravelmente narrado no livro “Kenilworth” de Sir Walter Scott.

Vimos a “Barnhouse” antiquíssima, onde está instalado um ótimo, utilíssimo e inevitável tea room e a “Gatehouse”[1], habitada.

Tomámos depois o combóio às 7,10, elas duas e nós dois para Londres. Colossalíssimo week-end! Soube a pouco!

2ª feira – 21 de Agosto

Fomos almoçar ao histórico restaurante “Ye olde Cheshire Cheese” em Fleet Street, ótimo!

Ye Olde Cheshire Cheese pub and Chop House Fleet Street

À noite convidámos a Dorothea e fomos os três ao Haymarket Theatre ver “The ten minutes Alibi”, um thriller de Anthony Armstrong, boa. Estávamos na última fila do balcão mas ouvia-se lindamente.

3ª feira – 22 de Agosto

Víctor foi a Boulogne buscar Artur e Buick. Até lá foi no mesmo comboio com o “Fazino”., Principe Bonifácio de Saragna, um “Atlantida”.

Jantámos com Amália e Mãe no Olderimo´s, “the centre of the World”!

4ª feira – 23 de Agosto

Almoçámos no Gennaro’s, um ótimo restaurante italiano in New Compton Street,

Gennaros Restaurant, New Compton Street, London

Comemos gostosos ”canneloni”, regados com “Vino Chianti”.

À tarde fomos visitar os Walton em Bushey Hall Hotel, Bushey, Hertz. Conhecemos uma família Beaumont, de África, e uma rapariga Chatfield que esteve em Tortington Park com a Cecília. O sítio é soberbo, lawns, trees, um golf e tennisses, um dos muitos paraísos ingleses.

Os Hagedorn partiram para a América. Ficámos bons amigos e espero que nos tornaremos a ver.

5ª feira – 24 de Agosto

Partimos do Bayley’s Hotel às 8,15 am para Harrogate onde os pais vão tratar-se. Rodámos por vários counties, a seguir: Hertford, Bedford, Huntingdon, Rutland, Nothingham. Lincolnshire. Sítios principais po ronde passámos: Stamford, Grantham, Newark, Doncaster, Witherby. Almoçámos em East Retford.

Chegámos a Harrogates, no Yorkshire, pelas 3,30. Andámos 209 milhas ou sejam uns 335 quilómetros em 6 horas o que dá uma média de 56/h. Estradas piramidais!

Fomos para o melhor hotel, o Majestic…

Como permanecemos aqui algum tempo vou dar alguns dados sobre o Yorkshire, políticos e geográficos.

É o maior condado inglês com perto de 11000 quilómetros quadrados de superfície, mais ou menos um oitavo da área total do país. Agricolamente é essencialmente um país de pastagens para carneiros, gado lanígero e também porcos, é famoso o “YorkHam”! Industrialmente é o “wool county” sendo as cidades manufactureiras, Leeds, Bradford, Huddersfield, Halifax, etc.

6ª feira – 25 de Agosto

Harrogate é uma lindíssima “Spa” como os ingleses chamam aos lugares de água. É uma autêntica cidade com lindos arredores arborizados e “relvados”.

De manhã passeámos pelos Valley Gardens e tivemos a subida honra de ver passar Sua Magestade a Rainha da Grã-Bretanha e Irlanda, Imperatriz das Índias, que acabava por aqueles dias uma visita que fez a sua filha, a Princess Royal, casada com o Earl of Harewood. Estava acompanhada pelo genro e pelo Mayor of Harrogate. Muita gente alinhou e todos se descobriram. Admiro imenso o respeito inglês pelos seus reis.

Começámos já a passear no carro. A minha tática é conhecer bem o país onde estamos. Fomos a Balton Abbey, uma das várias ruínas de abadias que enchem o Yorkshire. Que bem que as conservam estas vetustas pedras e que estímulo para o turismo e que contraste com as nossas ruínas! Passámos por Blubberhouses e Bolton Bridge. Data do século XII e está numa propriedade do duque do Devonshire, à beira do rio Wharfe, afluente de Ouse. Sítio encantador.

Sábado – 26 de Agosto

Tínhamos um picadeiro em frente do hotel e nesta manhã demos os três um bom passeio a cavalo. À tarde fomos ver uma gynkhana, no caminho de Knaresborough: “musical choirs” a cavalo, etc. Divertido.

No hotel predominam anciãos, como é natural num lugar de águas. Não conhecemos ninguém ainda, o Pai começa a inquietar-se com a falta de convívio.

Domingo – 27 de Agosto

Fomos a um “Air Pageant” perto de Plumpton a 10 minutos de Knaresborough. Havia uns 10 aviões que levavam pessoas “willing to pay”, entre os quais um novo tipo De Havilland onde o Victor passeou! Outro era um “Gipsy Moth” em que Mr. Scott foi à Austrália e voltou.

À volta viemos por Harewood, onde o genro dos reis tem um palácio.

2ª feira – 28 de Agosto

Joguei um pouco ténis com o Víctor, um pouco de treino.

À tarde visita a Byland Abbey, por Ripley, Ripon e Thirsk. É do século XII e tem um tea room em frente. Bom jam e scones! Seguimos para Hehusley e voltámos para Rievaulx,

Guidebook: Rievaulx Abbey

outra Abbey, linda num vale cercado de bosque. Séc. XII.

3ª feira – 29 de Agosto

Outro bom passeio a cavalo. À tarde vimos os curiosíssimos “Brimham Rocks”, rochas exóticas naturalmente moldadas por glaciares pré-históricos. Voltámos por Pateley Bridge, muito pitoresco.

Foto

4ª feira – 30 de Agosto

Jogámos o meu sport favorito, tennis. Pelas 11 horas apareceu a Mary Rush no seu Baby Austin, e seguiu para York, às corridas.

À tarde, por Bolton Abbey e Barden Tower fomos a Burnsall e Marham, por estradas esplêndidas e sítios lindos. De Marham fomos ver a “Gordale Scar”, uma garganta colossal.

Voltámos por Skipton.

Mary Rush jantou connosco e passou a noite.

5ª feira – 31 de Agosto

Tenis de manhã com Mary Rush; jeito. Fomos à tarde por Knaresborough a Borough Bridge. Vimos as famosas “Devil’s Arrows”, três monólitos com uns 8 metros de altura, perto de um antiquíssimo templo pagão.

A line of three large standing stones

Seguimos para Aldborough, a antiga “Isurium” dos romanos a 2 minutos dali. O condado também é rico em vestígios da ocupação romana. Vimos uns mosaicos romanos “tesselated pavement”, soberbos. Para os conservar construíram uma verdadeira casa de pedra e cal e uma grade interior à volta do mosaico. Fez-me lembrar as soberbas ruínas perto de Faro, as mais bonitas que tenho visto em mosaico, desaparecendo a pouco e pouco! Somos muito atrasados!! Vimos também um pequeno museu interessante e uma “quarry” [pedreira] e muralha da época. Para o mosaico não havia guarda-portão, uma mera tigelinha ao sabor da segura honestidade dos turistas, pelo menos dos ingleses!

6ª feira – 1 de Setembro

Tennis de manhã. Fomos “teaing” ao Three Arrows Hotel em Boroughbridge . Um adorável sítio, cosy no interior e um lindíssimo parque com uma piscina ao nível da relva, um paraíso! Vimos à volta o “dropping well” em Knaresborough, uma queda de água calcária que “empedernece” tudo o que estiver debaixo durante uns meses.

Sábado – 2 de Setembro

Víctor foi “cubling”, seguir a cavalo uma cçada à raposa. Partiu às 6 am e foi com um picador ter com os Brahmam Moor Hounds em Woodhall, que pertence ao commander Whitehead. Estava o “master of the hounds”, o Hon. Ed. Lascelles, irmão do Earl of Harewood, com os 1st. and 2nd whips e o huntsman. O passeio durou umas 5 horas de duro cavalgar… por isso é que eu não fui!

À tarde fomos a Ripon, com uma bela catedral; a “crypt” do século VII é muito interessante, tem uma abertura chamada “quint” por onde os que passavam eram inocentes! À noite fomos ver uma peça razoável “The two white arms” no Grand Opera House.

Domingo – 3 de Setembro

Tivemos nos courts do hotel um “American Tournament” de mixed doubles; tive uma parceira carrancuda e azelha!

Depois do jantar fomos ouvir no Royal Hall o grande cantor Count McCormack um temor ótimo, que nos cantou alguns “irish songs”.

2ª feira – 4 de Setembro

Jogámos tennis no hotel. O tempo continua soberbo e quente, a relva começa a amarelar pouco habituada a esta seca! Falta água em muitos sítios.

No caminho para o Royal Hall ontem à noite fomos juntos com Pai, Mãe e filha Baer que de súbito dizem ter estado em Vittel, e conhecido um senhor e filha portugueses, “ABC” como lhes chamavam! Nem mais do que o Tio Forty e Helena. A Vivien começou logo um béguin duradoiro pelo Víctor!…

Fomos a York, cidade interessantíssima, a uns 35 quilómetros de Harrogate. A catedral, a “York minster” é magnífica e a 3ª maior do mundo.

Tem vitrais dos séculos XII, XIII e XV que são famosos. Uma das janelas, as “5 sisters” tem vitrais do século XII de uma só cor, soberbos.

A cidade conserva ainda as muralhas e as “gates” em ótimo estado.

À noite vimos fogo de vista nos Valley Gardens, superior aos nossos em fogo preso.

3ª feira – 5 de Setembro

Tomei uma lição de tennis com o captain McConchie, um esplêndido professor que nas 2 lições que tomei me adiantou bastante. Era o antigo treinador das equipas francesas e estava no Magestic fazendo de “host”.

Fomos a Fountains Abbey talvez a mais conhecida e bonita das ruinas abaciais inglesas. Data do século XII e está perto de Rippon. O parque é fantástico. Vimos o Fountain Hall um palacete antiquíssimo, mas habitado e feito muito “cosy”.

4ª feira – 6 de Setembro

Começo a conhecer a Jean Patton por quem tive um forte “fraco”… Demos um belo passeio por Ilkey e Otley. São sítios pitoresquíssimos.

5ª feira – 7 de Setembro

Um bom passeio a cavalo e tennis. O Séjour aqui é agradabilíssimo. A nossa vizinha da mesa é uma senhora irlandesa, a Mrs. Thomson, que simpatizou imenso connoscoe vice-versa; uma simpatia.

6ª feira – 8 de Setembro

Fomos a Jervaulx Abbey, por Ripley, Ripon e Masham.

Sábado – 9 de Setembro

Soube-se da morte súbita na Suíça do rei Faisal do Iraque, um bom amigo dos ingleses.

O Víctor foi “cubbing” com os York and Ainsty Hounds cujo “master” é o Viscount Mount Garret, passaram pelas suas propriedades de Nidd Hall. Sustentar um “pack” é uma brincadeira que custa umas 2000 a 3000 libras por ano!!

No Yorkshire a pronúncia é curiosíssima; o que ressalta mais é a maneira de dizerem o u que pronunciam exatamente à portuguesa.

À tarde levámos a Mrs. Thomson a ver Middleham Castle, sem interesse; nele esteve preso Edward IV por ordem do Earl of Warwick. Seguimos para Richmond por Wensley e Leyburn.

Voltámos pela soberba estrada “A1” por Catterwick, Leeming e Ripon.

À noite dançou-se como quase sempre. Houve cabaret razoável, muita gente de fora, uma bela orquestra, permanente.

Domingo – 10 de Setembro

Torneio de tennis. Fui finalista com Joan, ganhámos o 2º prémio, umas belas caixas de toffee e chocolate!!

Fomos ao Royal Hall ouvir o Jack Hilton and his boys, esplêndido.

2ª feira – 11 de Setembro

Fomos uma segunda vez a York onde vimos as ruas vetustas da cidade, “The Shambles”, etc. Um bom tea inglês, no meio!

3ª feira – 12 de Setembro

Víctor e Vivian Baer foram “cubling” com os Bramham Moor Hounds pelas propriedades de Sir Joseph Radcliffe, chefiados pelo master. O Hon. E. Lascelles.

O Lionel Cohen chegou de Londres para as corridas de Doncaster que começaram hoje e acabam na 6ª feira. Sir Abe Bailey, o milionário sul-africano está cá também. O Lionel é o broker dele também.

4ª feira – 13 de Setembro

Fomos os três e Cpt. McConchie no Rolls dos Baer às corridas em Doncaster. O célebre St. Leger Stakes foi ganho facilmente pelo “Hyperion” de Lord Derby que também tinha ganho o “Derby”.

St leger stakes hi-res stock photography and images - Alamy

Vi pela primeira vez uma corrida de cavalos em Inglaterra. Uma multidão fantástica, umas 200.000 pessoas aglomeradas! E que entusiasmo bestial!

5ª feira – 14 de Setembro

Jogámos tennis. À tarde fomos no Buick com Joan Paton e Miss Potter (sobrinha de Mrs Slatter) a Studley Royal o fantástico parque de Fountain’s Abbey. Há imensos veados e corças por ali e cercámo-los chegando a juntá-los num bando enorme, a correr. O Víctor, emboscado, tirou uma fotografia, mas esqueceu-se que tinha o sol em frente da máquina!!… Gozei imenso dessa tarde. Voltámos pelos Brimham Rocks e Ripley.

6ª feira – 15 de Setembro

Os Baer e Paton partiram para Londres. Estes últimos, avô, mãe e filha, têm um Rols manhoso, antiquado, mas é um Rolls…

Jogámos ainda um pouco de tennis com o Justice Wighe e filha, irlandeses e também nos pusemos a mexer pelas 2,45 em direção ao Lake Windermere, no célebre “lake district” em Cumberland. Passámos por Skipton, Settle, Ingleton e Kendal. Umas 3 horas até Bowness-on-Windermere, com tempo lindíssimo e país idem. Fomos para o Old England Lake Hotel, à beira lago, antiquado mas muito pitoresco, cheio de móveis antigos, quadros, bibelots; os donos fazem dali o seu “home”.

Todo este distrito compreendendo parte do Cumberland, do Westmorland e do Lancashire, é uma maravilha.

Demos um passeio pelo norte do lago num bote a gasolina, passando por Wray Castle. Passámos no sítio onde Sir Henry Segrave teve morte horrorosa quando se treinava no seu barco, um dos “Miss England”.

Sábado – 16 de Setembro

Tempo magnífico, raro nesta parte de Inglaterra. Demos outro lindo passeio de gasolina pela parte sul, Lakeside e Newly Bridge.

À tarde fomos por Kendal e Shap (conhecido pelo seu granito) a Lowther Castle um autêntico castelo feudal com tremendas e lindas propriedades que o público atravessa,

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pertencendo a vila de Lowther ao poderoso Earl de Lansdale; este par do reino tem péssimo gosto; em Doncaster, nas corridas vimos 2 carros que lhe pertencem, um Daimler e um Rolls antiquíssimos e amarelo-canário!!

Voltámos pelo Ullswatter Lake, talvez o mais bonito da região.

Domingo – 17 de Setembro

Marchámos por Keswick, no lago Derwent Water no Westmorland, soberbo. Passa-se por Grasmere e Thirlmere que fornece Manchester, a uns 120 quilómetros de distância.

Fomos ao Station Hotel onde falámos com o Commander Chappel, sócio de Mr. Deanne que tínhamos conhecido em Harrogate, no Majestic. Têm uma pedreira de ardósia.

Seguimos para o Lodore Hotel à beira lago, um “family hotel”, pouco bom.

Acabámos esta lindíssima viagem passando por Birmingham, onde dormimos, e jantar uma noite em Four Oaks em casa dos Slater.

Viemos para Londres onde gozei mais uns dias da vida interessantíssima e ativa da grande metrópole e parti com a Yvonne para Lisboa no “Higland Monarch”.

 

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[1] The gatehouse at Kenilworth Castle formed part of major refurbishment carried out by the Earl of Leicester at some time around 1570. The gatehouse is situated approximately 50m to the NE of the castle.

[1] Bourboule é uma comuna francesa na região administrativa de Auvérnia-Ródano-Alpes, no departamento Puy-de-Dôme.

[2] Andrew “Anew” McMaster (24 December 1891 – 24 August 1962) was a British stage actor who during his nearly 45 year acting career toured the UK, Ireland, Australia and the United States. For almost 35 years he toured as actor-manager of his own theatrical company performing the works of Shakespeare and other playwrights.

[1] Harmsworth was the third son of Harold Harmsworth, 1st Viscount Rothermere, who had founded the Daily Mail in partnership with his brother Alfred Harmsworth, 1st Viscount Northcliffe. He was educated at Eton College and commissioned into the Royal Marine Artillery in World War I. His two older brothers were both killed in action. Esmond served as aide-de-camp to the prime minister at the Paris Peace Conference. In 1919, he was elected as a Unionist Member of Parliament for the Isle of Thanet, one of the youngest MPs ever. He served until 1929.

 

[1] Na realidade era só surdo, por resultado de uma operação aos ouvidos com 4 anos de idade.