Descrição da minha
viagem
ao estrangeiro
no verão do ano de
“1927”
“Com todos os pormenores”
Lisboa, 15 de Dezembro de 1927
Carlos Abecassis Seruya
Introdução
O fim da nossa viagem era levar o tio Saúl, que estava muito doente, para Hamburgo, para aí consultar um especialista. Depois de algum tempo a avozinha Esther e a tia Júlia iriam para lá para fazer companhia ao tio Saúl e nós, eu, o Víctor, o paizinho e a mãezinha, seguiríamos para uma praia em França.
A Viagem
Saímos de Lisboa no vapor brasileiro “Almirante Alexandrino”, da Companhia de Navegação “Loyd Brasileiro”, no dia 9 de Agosto de 1927, às 7,15 da tarde. Era terça-feira. Jantei depressa e fui logo para a ponte de estibordo onde gozei o lindíssimo panorama na saída da barra.
Fui para a cama; no dia seguinte acordei e espreitei pelo postigo da cabine. Estávamos no alto mar!
Eram 8,20. O camaroteiro veio trazer duas chávenas de café.
Vesti-me e fui para o convés. O primeiro dia enjoei, mas no dia seguinte já estava bem disposto. Nesse dia fizemos conhecimento com alguns senhores. O primeiro chamado Roman Gembarowsky ia com a sua mulher para a Polónia. Levava consigo duas filhas: Janine Wanda e Wanda Maria Helena. O segundo, Snr. Benjamim Fernandes, ia para Hamburgo com sua mulher D. Cacilda.
*
Passaram-se 3 dias muito agradavelmente, com tempo magnífico. Mas de terra nada. Só água!…
Enfim, no 4º dia, ao meio-dia e meia hora do dia 12, sexta-feira dirigindo o binóculo para N.E. avisto ao longe uma língua de terra. Era a ilha de Ouessant.
Às 11 a.m. do dia 13 metemos piloto; atracámos ao Quai de Gironde, no porto do Havre às 4 p.m… Que porto fantástico! Que quantidade de vapores, navios! Mas não podemos ver bem. Estava sempre a chover!
A chuva passou e às 6 p.m. desembarcámos com os Srs. Gembarowsky.
Fomos ao correio mandar um telegrama e em seguida ao Féliz Potin comprar uns belos pêssegos. Fomos também comprar um livro para o paizinho na Librairie Flamarion.
No dia 13 passámos o dia agradavelmente.
No dia 14 fomos dar um passeio de automóvel aos faróis. Os jardins tão bem tratados!
(legenda: “Bilhete do Chauffeur que nos levou aos faróis de St. Adresse no Havre”)
No dia 15 saímos do porto às 10,30 a.m. e saímos a barra às 12,30. Passámos toda a tarde e a manhã do dia seguinte no alto mar. No dia 16 às 7 a.m. metemos piloto e às 3 p.m. atracámos ao porto de Anvers. Desembarcámos e fomos ver a Catedral que nos surpreendeu pela sua beleza. A cidade é linda. As avenidas são maravilhas! Fomos tomar chá à casa “Everaert” uma das mais elegantes “patisseries” de Anvers.
No dia 17, anos do Víctor, às 4 h. da madrugada saímos do porto. Às 2,30 p.m. metemos piloto no “Hook of Holland”. Atracámos ao porto de Roterdam às 5,30 p.m… Fomos a terra e fomos passear.
No dia 18 de manhã fomos visitar o Sr. Vieira. Almoçou connosco e como falou mal português perguntou-nos “se a viagem era de vacâncias”. Depois do almoço ele levou-nos ao Jardim Zoológico. Tinha muita variedade de animais, sobretudo de macacos.
Voltámos para o vapor e saímos do porto às 4,30 p.m… Saímos do Hook of Holland às 6,30 p.m…
No dia 19 às 9 p.m. chegámos ao porto de Hamburgo. O correspondente da casa Seruya Irmãos veio ao vapor e trouxe-nos imensa correspondência. Fomos para terra e instalámo-nos numa pensão da rua Rabenstrasse, nº 4, Hamburg 36. A pensão não era má. Por engano deram-me uma cama de bébé sem grades; mas como não cabia nela mudei-me para o sofá onde dormi sempre.
Meti-me na cama cheio de sono. No dia seguinte de manhã, acordei bem-disposto às 9,30. Almocei com os pais. Vestimo-nos e saímos; fomos ao correio mandar um telegrama e comprar postais. No correio havia um elevador que nunca parava; subíamos e descíamos com ele a andar. Depois fomos à Posta Restante buscar cartas. Viemos para casa. À tarde a Mima foi cortar o cabelo e nós, entretanto, íamos com o Sr. Busch andar um puco de metropolitano e ver o “tunnel” sob o rio. É fantástico! Tem uns elevadores colossais onde entram automóveis, bicicletas, cavalos e pessoas. Chega-se e lá em baixo vê-se um compridíssimo túnel todo iluminado! (Quero dizer: tem dois túneis, um para ir e outro para vir.)
Fomos buscar a Mãe ao cabeleireiro e demos um passeio sobre o lago Alster num barco de carreira. Tomámos chá no Uhlenhorster Färhaus que é um restaurante muito chique à borda do rio. Voltámos para a pensão.
No dia 21 de manhã a chuva fez com que não saíssemos. À tarde fomos ao Hotel Atlantic um belíssimo hotel. Tomámos lá chá.
No dia 22 fomos fazer compras ao Tietz, enquanto o paizinho, senhor Busch e tio Saul iam ao professor Senhor Nonne. Este resolveu que o tio Saul ia para o hospital.
O Tietz[1] é uma formidável loja! Que ótimas coisas que tem. O “rayon” dos brinquedos é espantoso! Tem tudo quanto há. Acabámos a parte da manhã muito satisfeitos.
À tarde o Sr. Busch levou-nos ao Jardim Zoológico que é esplêndido. Os animais andam como que em liberdade. Mas os ferozes como o leão, o tigre, etc. têm uma fossa à roda do recinto onde eles estão à larga, para não poderem fugir! Há imensos macacos, um estava com um espelho e queria apanhar a figura que lá via.
Depois de vermos os animais fomos andando e fomos ver os pretos de Somali. Era engraçado.
Em seguida fomos ver ensinar animais para circo. Primeiro foi um homem que veio com as suas quatro focas. Fê-las saltar para cima dum banco e ficar quietas. Depois pôs uma grande bola no focinho duma delas; essa saltou do banco com a bola sempre em equilíbrio, deu uma volta à roda do palco e foi-se outra vez pôr no seu lugar. Depois vieram ursos. Um punha-se dentro dum carro e o outro puxava-o à volta do palco. Metemo-nos num táxi e viemos para casa.
No dia 23 de manhã fizemos compras no Tietz. À tarde fomos primeiro ver o Tio Saul ao Hospital e depois dar um passeio sobre o Alster. À noite queríamos ir ao animatógrafo mas só depois dos 18 anos se podia ir. No dia 24 de manhã fomos ver um museu de quadros que não me interessou muito. À tarde fomos tomar chá ao Uhlenhorster Fährhaus. Depois atravessámos o rio no Ferryboat e fomos ver jogar tennis. Viemos para casa e no dia 25 de manhã não podemos sair por causa da chuva. À tarde fomos tomar chá com o Sr. Busch a uma casa chamada Heinz. Às sete horas fomos com a Frau Kane, uma amiga da pensão, ao cinema Lessing-Theatre. Vimos uma expedição da África do Sul à África do Norte. O herói da viagem é o Collin Ross. Depois da fita que acabou às nove fomos comer umas “sandwiches” ao restaurante “Iabaut”.
No dia 26 de manhã fomos ver o Rathaus. É muito bonito. Em seguida fomos buscar as fotografias ao Kodak e viemos para casa. À tarde fomos remar com o Sr. Busch e o filho no seu barquinho, pelos canais e no rio Alster. No dia 27 fomos à sinagoga. É linda. À tarde fizemos umas compras e tomámos chá na casa Hübner. Depois fomos ver o tio Saul ao hospital num autobus esplêndido e muito confortável.
No dia 28 de manhã fomos visitar o porto de Hamburgo num gasolina. Vimos os vapores Monte Sarmiento e Cap Arcona a acabar de construir-se. Voltámos e subimos à torre St. Michaelis. Depois fomos mostrar à Mãe o tunal debaixo do Elba. Em seguida metemo-nos num táxi e fomos almoçar ao restaurante Jacob que está situado à beira do rio. Enquanto almoçávamos vimos passar o transatlântico “Albert Ballin” um esplêndido vapor da companhia “Hamburg Amerika Lines”. Depois do agradável almoço naquele esplêndido restaurante fomos a pé atá Blankenese. Depois tomámos o comboio e fomos ver o “Parc de Ohlsdorf” que é espantosamente bonito. Em seguida metemo-nos no metro e viemos para casa.
No dia seguinte de manhã fomos ao “Museu da História de Hambrgo”” que é interessantíssimo! À tarde andámos na canoa com os filhos do Sr. Busch; fomos tomar chá ao “Stadt-Park”. No dia 30 fomos sair com o Pai. À tarde andámos outra vez de barco com os Busch; fomos tomar chá ao “Winterhude”. No dia 31 andámos sempre de barco, dando um passeio esplêndido pelo rio acima. Fomos a Ohlsdorf às “écluses” e almoçámos no restaurante “Alster Park”. Depois do almoço andámos mais para cima tornando-se mais difícil remar por a corrente ser mais forte. Às 3 e meia tomámos banho num sítio afastado. Depois voltámos e fomos encontrar o Hans e o Carli no Alster Park. Lá apareceram às 4 depois de sair da escola; voltámos para casa satisfeitos com a nossa agradável “journée”.
No dia 1 de Setembro fomos ao “Hagenbeck’s Tierpark”. À tarde tomámos chá no Uhlenhorster Fährhaus e no dia 2 partimos ao meio-dia para Berlin num comboio que tinha “T.S.F.”. Quando chegámos fomos para o “Hotel Continental”. À tardinha passeámos por Berlin. Depois fomos ao Luna Park onde andei na montanha-russa, no radio-auto e outras coisas com um piadão. No outro dia de manhã fomos ao banco e depois à Sinagoga. À tarde fomos ao Aquarium e depois ao Planetarium. No aquário vi dar de comer aos crocodilos e várias outras coisas interessantes. No Planetarium vi todas as estrelas, mas não percebi a explicação do homem porque era em alemão.
No Domingo dia 4 de Setembro fomos fazer uma excursão a Potsdam.
[Escrito à mão no canto superior esquerdo do bilhete: “Bilhete com que fui a Potsdam no dia 4 de Setembro de 1937”]
Fomos de autobus primeiro, passámos pela “Avenida da Armada” que tem 32 quilómetros de comprimento. Parámos e subimos para um barco de carreira onde no meio do almoço ouvimos uns quatro rapazes falarem português numa mesa diante de nós. Depois do almoço chegámos a Potsdam. Metemo-nos num autobus que nos levou ao Palácio de Sans Souci.
Esse palácio era de Frederico da Prússia. O rei era muito amigo de Voltaire e uma vez querendo convidá-lo a jantar mandou-lhe isto: P/venez a 6/100, ao que Voltaire respondeu: G a. (contado pelo homem do autobus). Depois vimos outros palácios admiráveis e voltámos para Berlin.
Segunda-feira de manhã fomos ao Wertheim. À tarde fomos lá outra vez. Às 8 e meia partimos para Frankfurt onde chegámos terça-feira às 6 e meia da manhã. Fomos para o Park Hotel , tomar banho e almoçar. Saímos depois e fomos ver a casa onde o Pai esteve com o Tio Fortunato, quando tinham 13 anos. Fomos também ver a escola onde estiveram 2 anos e o professor antigo deles que é hoje o director. À tarde fomos ao Stadium ver as piscinas e outras coisas. Viemos embora e fomos ver se eu podia entrar num animatógrafo com uma fita engraçada mas como em Hamburgo só aos 18 anos é que se pode ir à noite; mas o Víctor sendo tão alto deixaram-no entrar. A mão o pai e a Madeleine foram ao teatro ver o “Patriota” pela Leontine Lagan que o pai conhecia muito bem de África. Mandou-lhe um bilhete para ela vir cear e ela gostou muito de o ver.
No dia seguinte, dia 7 fomos ver a parte velha da cidade que é muito interessante. Fomos ver a casa do primeiro Rothschild. Vimos o quarto onde ele fazia negócios com os reis e princípes, vimos o cofre onde ele guardava os seus milhões. Depois almoçámos em casa da Carry que nos deu um esplêndido almoço com duas garrafas de cerveja “Pilsner”, que o pai saboreou imenso. À tarde fomos ver a casa de Goethe. A mobília era muito simples e muito bonita. Depois fomos a uma lija comprar uns bonequinhos de madeira para a Yvonne. Fomos tomar chá num “conditorei” no Haupwache. À noite fomos jantar ao RatsKeller; é um restaurante no Rathaus. À noite, o pai, a mãe e Madeleine foram a um animatógrafo.
No dia 8 de manhã fizemos várias compras: luvas para lavar a banheira, uma bolsa para a Madeleine e outras. Almoçámos e às 5 horas partimos para Paris onde chegámos às 6 da manhã. Fomos para o Hotel St. James and Albany.
Às 10 fomos ao “Ciné-Pathé”. Almoçámos no restaurante Griffon na Rue D’Antin. À tarde fomos ao Wagons-Lits indagar as horas do Sud-Express para Saint Jean de Luz. Depois fizemos uma volta por Paris em autocarro. Vimos o Palais de Justice onde o pai pediu para ver o filho do Sr. Salzedo de Bayonne, e que não estava; vimos a Noter-Dame de Paris que é uma igreja espantosamente linda! À noite jantámos na casa do tio Henry e no dia seguinte às 10 da manhã partimos para St. Jean de Luz no Pullman Car. Chegámos lá às 8 e meia e fomos para o Hotel Moderne.
No dia 11 de manhã fomos ao correio mandar telegramas. Estava um tempo péssimo! O Víctor cortou o cabelo e à tarde fomos passear. Depois, às 5 horas, vimos fazer “Berlingots”.
No dia seguinte, dia 12, fomos à Ville de Madrid fazer umas compras e viemos para casa. À tarde vieram tomar chá connosco a Mercês, a Teresa Maria, a Jeanne Plantier e os filhos. Passámos a tarde muito bem e às 7 foram-se embora.
No dia 13 de Setembro, terça-feira, tomámos o nosso primeiro banho de mar. De manhã o tempo estava bom e à tarde uma maravilha.
Nesse dia o José Tarouca veio nos fazer uma visita. Com ele fomos ao clube ”Campos Berri”. O Víctor teve lá uma lição de tennis. O paizinho, nessa tarde, tinha ido jogar golf ao “Golf de la Nivelle” em Ciboure.
No dia 14 de manhã estava o tempo esplêndido. O Víctor falou com o Sr. Villepion para nos ensinar, a mim a nadar, e ao Víctor a saltar. Fomos ao “Plongeon” para ver os saltos. Tomámos um banho colossal e secámo-nos ao sol.
À tarde fomos a Biarritz que está muito mudado. Fomos ver a Mercês, primeiro, e depois, com ela, fizemos várias compras na “Ville De Madrid” e no “Old England”. Depois tomámos chá no “Guillet Durand”. Em seguida fomos comprar sapatos para o Víctor na “Manufacture de Limoges”. Viemos para casa às 7 no autobus.
No dia 15 de Manhã o pai tomou o seu primeiro banho de mar. À tarde tomámos chá no “English Tea Room”.
No dia seguinte tomámos banho às 11 h. À tarde fomos a Biarritz e ao “Rocher de la Vierge” que estava lindíssimo e onde apanhámos bastantes duches. Depois fomos tomar chá ao Dodin. Nessa tarde a mãe comprou vestidos e outras coisasde que precisava. Comprei um “Bérret Basque” para mim. Voltámos no “bus” esplêndido que tem um condutor muito simpático.
No dia 17 de manhã tomei banho como sempre. À tarde fomos ao golf com a mãe. No dia 18 fomos lá outra vez e quando passou o comboio vimos o Sr. Tavares de Almeida.
No dia 19 tive a minha primeira lição de nadar.
No dia 20 tive outra vez lição e ainda a tive por oito dias. Depois chegou a Teresa Maria e tomámos banho juntos. À tarde fomos à “Laiterie Basque” em Guéthary. No dia 20 fomos ao golf. A … e o Víctor tiveram uma lição e o Pai jogou.
No dia 22 fomos ao hotel Eskualduna em Hendaya onde fui apresentado ao Dr. Afonso Costa que falou com o Víctor a respeito de golf. Viemos para St. Jean de Luz e tomámos chá no American Tea Room.
No dia 23 à tarde fomos visitar o submarino “Halbronn”, um dos maiores da esquadra francesa. Andámos lá por baixo, vimos as máquinas, o periscópio, etc… Depois fomos ao golf. No dia 24 de manhã choveu imenso, não podíamos tomar banho. À tarde fomos a Bayonne fazer compras. Comprei uma “trois-toiles”, sapatos, etc… Essa noite fomos ao Magic-Cinema-Theatre. Fimos a fita de Jackie Coogan: Ma…a…archand d’ha…a…bits”, muito engraçado.
No dia 25 fomos ao golf. A meio da lição da Mãe desencadeou-se um temporal. Houve imensos relâmpagos e trovões. Viemos para casa a pé. O Pai não tinha vindo connosco porque tinham ido visitá-lo: o Sr. Salzedo e o Sr. Tavares de Almeida.
No dia 26 fiquei em casa todo o dia por causa de uma maçadora constipação.
No dia 27 não tomei banho. À tarde tomámos chá no American Tea Room.
No dia 28 veio a Teresa Maria tomar banho, mas nós não tomámos. Em seguida fomos ter com os pais e Mercês que tomavam o “apéritif”. Comi azeitonas e torradas. À tarde fomos a Bayonne fazer compras. Viemos no comboio. À noite eu e o Pai fomos à estação para cumprimentar a Maria Reis que passava no Sud-Express. Mas como o Sud vinha com uma hora de atraso não esperámos.
No dia 29 de manhã tomei um banho de baía. À tarde fomos ver um jogo de “pelote basque”. Jogava o Chiquito de Cambo, que era o campeão.
No dia 30 fomos à barra e depois ao golf. No dia 1 de Outubro, sábado, fomos, eu, o Víctor e Pai, ao golf. O Pai nessa tarde fez os 9 buracos em 68 tacadas.
No dia 2 tomei banho. À tarde como sempre … ao Golf.
No dia 3 fomos a Biarritz onde me abasteci de lápis, borrachas, cadernos. Fomos tomar chá ao Dodin. No dia 4 os pais foram para Biarritz e nós dois para o Golf. No dia 5 era véspera de Kippur. Fomos ao Golf e depois a uma casa de chá onde os pais e Víctor comeram umas sandwiches e às 6 horas começaram o jejum. Eu não jejuei. No dia 6 às 11 horas fomos a Bayonne à sinagoga. Passámos pelo Golf de Chiberta que é lindíssimo. Passámos quase todo o dia na sinagoga. Quando quisemos voltar já não se fazia a carreira de autobus por isso tomámos a B.A.B… Em Biarritz tivemos a sorte de apanhar um autobus que tinah quatro lugares à justa.
No dia 7 fiquei com o Pai. A Mãe e Víctor foram a Biarritz. Vieram para o almoço (eu quero dizer: só foram a Biarritz à tarde). Quando comíamos uma senhora e filha que se levantaram naquele instante, mandaram um bilhete pelo criado à Mãe. Continha isto: no verso: “I D’ONT THINK YOU CAN KNOW YOUR DRESS IS CAUGHT UP AT THE BACK. I HOPE YOU D’ONT MIND MY TELLING YOU”. Na frente: “LADY LUCAS MISS JOAN LUCAS”
É traduzido por: “Não sei se você sabe que a sua saia está levantada atrás. Eu espero que não se importe dizer-lhe isto”. E aqui está a aventura cómica passada durante o almoço.
No dia 8 um senhor que cumprimentava o Pai ofereceu-nos (a cada um) um cálice de champagne! Nesse dia à tarde fomos a “Rhume”. Lá em cima: um panorama lindíssimo! Tomámos chá e viemos embora.
No dia 9 ficámos em casa a fazer as malas. No dia 10 fomos ao Golf de manhã depois de nos termos metido três vezes na água, durante o banho. O Víctor fez pela primeira vez o “round” em 61 strokes. À tarde fomos outra vez ao Golf onde a Mãe teve a lição. Nessa noite às 9 horas tomámos o comboio e às 10,30 metíamo-nos no Sud-Express em Hendaya.
No dia 11 chegámos a Lisboa com três quartos de hora atrasados. Estava pouca gente na estação. Acabaram-se as férias e no dia 24 começaram as lições do 2º ano dos liceus.